Não sei relatar a origem desta frase, mas confesso
que assim que pousei meus olhos sobre ela, uma memória de infância virou faísca
dentro de mim.
Quando era criança tive a oportunidade de viver sob
a luz de lampiões e lamparinas a querosene. Lembro que, na minha percepção
infantil, era intrigante viver com uma iluminação tão precária, muitas sombras
e um tantinho de fumaça em nossos rostos, todo anoitecer. Dessa época guardo
também uma memória muito interessante, de uma história que minha mãe contava.
Segundo ela, meu irmão mais velho não gostava que se acendesse nenhuma vela ou
lamparina a partir da que estivesse com ele, sob intensos protestos de estarem
diminuindo sua luz. Ele ainda não compreendia que compartilhar, não diminuiria
nem afetaria a chama que ele segurava.
De posse dessa memória afetiva e diante da frase
que me chamara a atenção, chego à conclusão de que, mesmo passado o tempo das
velas e lamparinas, muitos de nós ainda temem dividir sua luz, a interior. Medo
maior, tenho percebido, é o de que a luz dos outros seja mais intensa que a
nossa própria.
Tenho visto muita gente com medo de manifestar o
que tem de melhor. E gente mais receosa ainda de reconhecer o que os outros têm
de melhor.
Andamos querendo esconder nossos talentos, nossa
simpatia, nossas gentilezas, nossa bondade... como quem tem receio de
mostrar-se e prefere manter tudo isso oculto, só para si, pra não ter que se
dividir com mais ninguém.
Temos preferido fechar nossos olhos diante das
luzes dos outros, por não querer reconhecer talentos, dons, capacidades e
potenciais; com receio de que o outro brilhe mais do que nós. Nutrimos um
comportamento que lembra a imaturidade da infância, com certo cunho egoísta, e escondendo-nos,
sob caras fechadas e palavras ásperas, sorrisos falsos e gestos pouco afáveis.
A maioria das pessoas esqueceu-se de que ser claridade
é muito mais bonito. E que, decidindo ser luz não há quem nos ofusque.
Valorizar o que temos de bom dentro de nós e o que
há de bom dentro das outras pessoas é um comportamento nobre e agradabilíssimo
e que só faz clarear a alma de quem se permite.
A luz que ilumina nosso olhar, nosso sorriso, nossa
presença, vem do bem que fazemos ou sentimos. É injustificável temer
reparti-la. O que faz nossa luz diminuir é o mal, alimentado por nosso egoísmo
e por outros sentimentos igualmente obscuros.
Não economize sua luz, não! Seja bom, agradável e
gentil; sorria com frequência; elogie sem esperar nada em troca, sem inveja nem
receio de que te passem à frente. Ninguém será capaz de tomar seu lugar, nem
seu brilho, porque nossos lugares foram marcados, e cada um tem o seu.
Distribua luz, seja luz. Ilumine e se deixe
iluminar. O mundo anda escuro demais pra você guardar sua luz só para si. Pense
nisso!
Alessandra Piassarollo
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