“Amável”. Aquele que se faz digno de
receber amor. Funciona assim: água potável a gente bebe, letra legível a gente
lê, dia memorável a gente lembra. E gente amável a gente ama. São as pessoas
que se prestam ao sentimento amoroso do outro. Amáveis. Esses seres estranhos
que nos dão motivos para sentir amor.
Você
sabe. Amar não é coisa que a gente faz assim, à toa, sem mais nem menos.
Ninguém ama do nada. A gente ama porque alguém, mesmo sem se dar conta, nos
abre caminhos para o amor. Ora são razões pequeninas, invisíveis a olho nu. Ora
são incentivos imensos, escandalosos, irrecusáveis. Mas não tem jeito. Há
sempre uma causa de amor ali. Escancarada ou escondidinha, ela sempre está ali.
Não,
eu não me refiro aos bajuladores, autocomplacentes, ególatras, falsos gentis,
hipócritas, dissimulados e canastrões de toda sorte que estouram em qualquer
canto gritando “Gostem de mim! Gostem de
mim!” Não. Eu me refiro a pessoas amáveis. Aquelas que fazem por merecer
amor.
É
certo que o verdadeiro ser amável quase nunca percebe o seu ofício encantador
de sair pela vida distribuindo fundamentos para que o outro lhe queira bem. Ele
simplesmente vai por aí sendo o que é: um ser humano bom. Sem mais. Não tem a
intenção descarada de que alguém lhe dê amor. Não impõe amor ou exige amor em
troca. Porque amor ele já tem. Ele já se ama. Ele se ama como quem respira,
como quem vive. Então dá na gente uma vontade poderosa de amar também. Gente
amável é assim. Provoca amor nos outros.
Exceto
os masoquistas, os perversos e os mal-intencionados de todo tipo, não há quem
ame tendo mais motivos para não amar. E não há quem ame sem razão nenhuma. Vez
ou outra, a gente não encontra ou então desconhece as razões do amor. Mas isso
não significa que elas não existam. Elas estão lá, em algum lugar, germinando
amor na gente. Agora, cá entre nós, despertar amor no outro é coisa de quem tem
amor em seu “lá dentro”.
Não
há cristo que vá gostar de nós se nós mesmos não nos fizermos amar. Sejamos
amáveis, pois. Conosco e com o outro. De toda pessoa boa, o mínimo que se
espera é que ela dê ao mundo motivos para ser amada. Isto não é querer demais,
não. Nem é pretender “ser legal” com
toda gente. É ser alguém decente. Abrir o coração e se dispor a amar o outro
como a si mesmo.
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