Minha mãe sempre teve o hábito de preparar comida a
mais, especialmente para os almoços de domingo. Ela enchia as panelas, com mais
do que o suficiente para nossa família. Mas ela não pretendia desperdiçar
nenhum grão, não. Tampouco esperava ninguém em especial. A gente vivia uma
expectativa constante do tipo: “vai que
chega alguém...”.
Naquela época não usávamos telefone nem nada e eu
me perguntava por que ela fazia aquilo, já que tudo não passava de suposição. O
fato é que ela fazia com frequência e as panelas cheias tornaram-se uma espécie
de convite. As visitas, que se revezavam entre parentes e amigos, passaram a
ser uma constante em nossa casa simples.
Hoje penso que as panelas dela não se enchiam
apenas de comida. Que se enchiam também de afeto e consideração, mesmo sem
saber a quem serviriam. Acho até que o coração dela era maior do que as próprias
panelas. Tudo isso se tornou um atrativo e o que não passava de suposição tornou-se
nossa realidade. Percebi conforme o tempo passava que, embora as pessoas viessem
sem aviso, chegavam com a certeza de que ela estaria pronta para recebê-las.
Que lições aquelas panelas quentinhas sobre o fogão
à lenha foram capazes de me ensinar!
Talvez nossas “panelas”
estejam ficando vazias demais. Estamos nos satisfazendo com coisas que não
deveriam nos deixar satisfeitos. Não nos esperamos mais, nem queremos
recebermo-nos. Cada um por si, sem nenhuma chama acesa e sem nos encontrarmos
de fato.
Por mais que se insista em dizer que o afeto se
liquefez, a maioria das pessoas ainda está à procura de aconchego e carinho. E
pensar que já fomos melhores nisso! Que já demos mais importância às outras
pessoas, na época em que elas eram o que tínhamos de mais precioso.
Agora se diz “família,
meu tudo”, sem que haja uma verdade sendo dita na íntegra. A família tornou-se
digital e vê-se muito mais pela tela. Os amigos têm-se enveredado por este
mesmo caminho.
A verdade é que a gente anda mesmo é sem tempo pra acolher
quem quer vir ao nosso encontro, embora tenha muita gente querendo ser esperada
e necessitando ser encontrada, com fome que não é exclusiva de arroz e feijão.
Bem que poderíamos adotar a tática das panelas
cheias, abarrotando-nos com sentimentos de amor e de espera pelo outro; bem que
poderíamos aumentar nossa abertura e nossa receptividade. Porque faz bem para
nosso crescimento pessoal, o encontro com quem está à procura de alívio para as
necessidades que sente.
Oferecer um sorriso, um abraço ou uma refeição de
vez em quando não faz mal a ninguém, e deixa o coração cheio de coisas
deliciosas. Pelo menos foi o que eu aprendi com as convidativas panelas da
minha mãe.
Alessandra Piassarollo
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