Vem
aqui, me deixa contar uma coisa.
Pessoas
reais são imperfeitas. Carregam histórias, possuem medos, inseguranças, crises
existenciais e além de tudo isso, costumam vir com uma incubadora de paranoias
acoplada em cima do pescoço, mais conhecida como cabeça.
Relacionamentos
reais são constituídos por pessoas reais. Eles costumam demandar
disponibilidade para nascer, esforço para crescer e vontade mútua para durar.
Carecem de conexões profundas, obtidas quando mostramos quem somos de verdade.
Ou seja, quando sabemos nos mostrar vulneráveis.
Se
mostrar vulnerável é deixar o outro enxergar sua essência, ao invés de um
catálogo de filmes cults, rótulos de
cerveja e carimbos de viagem. É permitir ser visto como uma pessoa real,
imperfeita. Que carrega uma história, possui medos e bem, tudo mais o que já
falei aqui em cima.
Percebe
como é um ciclo?
Não
adianta querer viver algo real, sem ser uma pessoa real e principalmente, sem
aceitar que o outro também seja. Não sei de onde tiramos a mania irritante de
querer uma coisa e lutar por outra. Ao mesmo tempo em que pedimos verdade,
gostamos da mentira ao ponto de nos enganarmos o tempo inteiro. Falamos em
intensidade, mas somos incapazes de lidar com o que há de mais intenso em nós
mesmos, que é nada mais nada menos do que a humanidade que rejeitamos a todo
custo e que tentamos disfarçar com filtros do Instagram, corretivo para olheiras
e hashtags good vibes.
A
natureza – sábia como sempre – traz uma ótima metáfora para isso. Se você
planta uma semente de tomate, sabendo que está plantando tomate, desde que
regue e que cuide dela como deve ser cuidada, colherá tomates e nunca terá
dúvidas sobre o que está brotando antes que eles comecem a surgir.
O
que vem acontecendo é que estamos plantamos tomates, deixando de cuidar das
sementes e desejando que nasçam laranjas. Voltando, ao mesmo tempo em que
corremos atrás do próprio rabo em busca de aceitação e fugimos para as
montanhas por medo de rejeição, dispensamos uma pessoa logo no primeiro defeito
que encontramos. Contraditório, não?
Sabe
aquele papo de Gandhi sobre ser a mudança que você deseja ver no mundo? Pois
bem. Na minha versão não tão transcendental, mais superficial e infinitamente
menos ambiciosa, digo: seja a pessoa que você gostaria de conhecer. Isso não é
nada mais, nada menos do que buscar coerência. Algo que, convenhamos, o mundo
anda precisando e nossa imperfeita humanidade também.