Uma
linda reflexão sobre o que os filhos esquecem, mas uma mãe nunca esquece!
O
tempo, pouco a pouco, me liberará da extenuante fadiga de ter filhos pequenos,
das noites sem dormir e dos dias sem repouso. Das mãos gordinhas que não param
de me agarrar, que me escalam pelas costas, que me pegam, que me buscam sem
cuidados, nem vacilos. Do peso que enche meus braços e curva minhas costas. Das
vezes que me chamam e não permitem atrasos nem esperas.
O
tempo me devolverá a folga aos domingos e as chamadas sem interrupções, o
privilégio e o medo da solidão. Acelerará, talvez, o peso da responsabilidade
que às vezes me aperta o diafragma. O tempo, certamente e inexoravelmente
esfriará outra vez a minha cama, que agora está aquecida de corpos pequenos e
respirações rápidas. Esvaziará os olhos de meus filhos, que agora transbordam
de um amor poderoso e incontrolável. Tirará de seus lábios meu nome gritado e
cantado, chorado e pronunciado cem mil vezes ao dia.
Cancelará,
pouco a pouco, ou de repente, a confiança absoluta que nos faz um corpo único,
com o mesmo cheiro, acostumados a mesclar nossos estados de ânimo, o espaço, o
ar que respiramos.
Como
um rio que escava seu leito, o tempo perigará a confiança que seus olhos têm em
mim, como ser onipotente, capaz de parar o vento e acalmar o mar, consertar o
inconsertável e curar o incurável. Deixarão de me pedir ajuda, porque já não
acreditarão mais que em algum caso eu possa salvá-los. Pararão de me imitar,
porque não desejarão parecer-se muito a mim. Deixarão de preferir minha
companhia em comparação com os demais (e vejo, isto tem que acontecer!).
Se
esfumaçarão as paixões, as birras e os ciúmes, o amor e o medo. Se apagarão os
ecos das risadas e das canções, as sonecas e os “era uma vez...” Com o passar do tempo, meus filhos descobrirão que
tenho muitos defeitos e se eu tiver sorte, me perdoarão por alguns deles.
Eles
esquecerão, mas ainda assim eu não esquecerei. As cosquinhas e os ‘corre-corre’,
os beijos nos olhos e os choros que de repente param com um abraço, as viagens
e as brincadeiras, as caminhadas e a febre alta, as festas, as papinhas, as
carícias enquanto adormecíamos lentamente.
Meus
filhos esquecerão que os amamentei, que os balancei durante horas, que os levei
nos braços e às vezes pelas mãos. Que dei de comer e consolei, que os levantei
depois de cem caídas. Esquecerão que dormiram sobre meu peito de dia e de
noite, que houve um dia que me necessitaram tanto, como o ar que respiram.
Esquecerão,
porque é assim mesmo, porque isto é o que o tempo escolhe. E eu, eu terei que
aprender a lembrar de tudo para eles, com ternura e sem arrependimentos,
incondicionalmente. E que o tempo, astuto e indiferente, seja amável com estes
pais que não querem esquecer.
Via: Aleteia