É
preciso ter fé, acreditar e seguir. Fé é saltar de paraquedas mesmo com medo de
voar, é se agarrar em ilusões absurdas, é abraçar o que não é concreto, é
acreditar sem ser visto ou tocado. Fé é acreditar sem ver, é o mistério que
incomoda a razão.
Assistindo
a um episódio de Mad Men, me vi em uma das cenas: uma mulher desesperada com um
resultado de exame, tentava manter a serenidade para a família. Naquele
momento, percebi que fazer algumas cenas são difíceis até mesmo na tv, e ser
atriz na vida real, é pior ainda, mesmo com muito talento. É difícil segurar o
choro contido e o desespero instalado. É difícil manter a aparência quando uma
catástrofe inóspita desarranja nosso destino.
Sinceramente,
não sei o que é pior, nos vermos no fundo do poço ou termos a esperança de um
fio de luz no fim do túnel. Não sei o que é mais pavoroso se sentir em perigo
ou sentir a vida caminhando para o fim. É muito devastador sentir a vida por um
fio, a pior sensação que alguém possa ter ou pode ser sem explicação, porque os
absurdos não têm noção do que é sofrimento.
Eu
entrei naquela cena do seriado sem muita explicação, talvez eu estivesse mais
sensível. Naquele momento, eu senti a dor da personagem e tive a sensação de
querer arrancar aquele problema dela. Ficava imaginando se fosse comigo, se
fosse com alguém próximo... Se fosse... Mas não é! Na mesma hora, eu me
levantei do sofá, abri a janela do meu quarto, olhei para a Igreja e pedi a
Deus uma vida longa com saúde, o que pode até soar mesquinhez e é.
Os
contratempos da vida nos arrastam para mais perto da fé, do amor e da paz.
Somos tão esquisitos que precisamos levar uma rasteira para que possamos ser
melhores, mais pacientes e até mesmo mais carinhosos. Na hora do desespero,
abraçamos a fé para nos aliviar, fingimos ser positivos, inventamos sorrisos no
lugar dos rancores. O desespero é o soco na soberba e, a humildade, é o
primeiro passo para o recomeço.
Por
que nos tornamos melhores e mais maleáveis quando o mundo cai e a ponte desaba?
Fiquei pensando nisso. Por que aquela mulher precisava de um diagnóstico fatal
para reatar com a vida e com a família? Um sorriso gratuito e da alma, é melhor
do que palavras para nada. Por que somos ruins ao invés de sermos felizes? Por
que? Não tenho as respostas, mas conclui que não quero uma vida fajuta e
infeliz.
Não
vou sair por aí fingindo que me converti ou exalando bondade. Não vou! Vou ser
eu mesma mais lapidada. Quero apenas que minhas palavras sejam amigas, que meu
sorriso seja descontraído, que eu tenha mais paciência com a família e meu
filho. Quero ser alguém mais humana, sem ser oportunista.
Em
pé na janela refleti a vida olhando para a igreja e, para ser sincera, pensei
apenas. Não estava buscando respostas e nem me igualava com uma personagem de
ficção, embora a vida seja uma ficção. Então, ali respirando ar puro em uma
noite chuvosa, me lembrei que amanhã posso levantar um pouco mais tarde porque
é sábado, e que já era tarde demais para pensar em coisas absurdas.
Olhei
para a minha cama, fechei meus pensamentos desconexos e decidi viver com fé,
mesmo que às vezes, eu fuja dela... “Andar
com fé eu vou que a fé não costuma faiá”.