“Porque,
você vê, minha mãe me deu o inferno”, escreveu a mulher.
Uma
mulher não identificada publicou uma carta no site do jornal britânico ‘The
Guardian’ endereçada às pessoas que a julgavam por ela não amar a mãe. A
remetente explica que a falta de sentimentos não tem relação alguma com traumas
físicos e, sim, psicológicos. Para ela, nem toda mulher que coloca filhos no
mundo nasceu para ser mãe.
O
bilhete revoltou alguns internautas. Como forma de desabafo, a jovem relatou a
dor de também não se sentir amada. Confira o texto na íntegra:
“Todos
os anos, no domingo do Dia das Mães, filhos e filhas compram flores e outros
presentes para homenagear as mulheres que os puseram no mundo; artigos saem
glorificando a maternidade (e instruindo a todos a ligar para suas mães) e a
pressão é enorme. Porque, você vê, minha mãe me deu o inferno.
Ela
raramente era fisicamente abusiva; ela é muito mais inteligente do que isso.
Tudo está no domínio. Por que ela me ignorou por meses? Quem sabe, não é mesmo?
Mas se confrontada, ela negaria isso. Por que existe um favoritismo entre eu e
meus irmãos? Não é possível: deve ser minha imaginação.
Quando
as pessoas assumem que aquelas que deram à luz automaticamente sabem como
sentir (e expressar) ‘amor materno’, só piora as coisas. A suposição cria uma
mística sobre o relacionamento mãe-filho que prejudica aqueles criados por uma
mãe que não sabe amar. Muitos passam suas vidas se perguntando o que está
errado com eles e por que suas mães não se comportam amorosamente. Ter a
sociedade dizendo-lhes que sua mãe é uma fonte de amor para ser adulado é
brutal.
Os
tempos serão sempre difíceis para crianças (ou adultos) em nossa situação?
Ironicamente, não. Como abusadoras clássicas, nossas mães nos oferecem frases
gentis e expressões de apoio. Desesperados por pensar que somos dignos da
aceitação delas, mordemos cautelosamente a isca. Uma vez que elas tenham
certeza de nossa submissão, a manipulação começa novamente.
O
fato triste é que algumas mulheres que dão à luz - e que pensam em si mesmas
como muito amorosas - estão ansiosas em controlar esse amor. Essas mães podem
parecer orgulhosas e apoiar seus filhos, mas no fundo são críticas e negativas.
Seu encanto superficial nos isola, e os outros não conseguem entender o porquê
não queremos passar tempo com pessoas tão adoráveis. Mães como estas assumem o
papel de vítima lindamente: com lágrimas nos olhos, elas vão contar aos outros
(especialmente parentes, porque eles podem se envolver em seu favor) que não entendem
o que fizeram de errado... enquanto dão o tratamento silencioso para o filho ou
filha durante meses.
Depois
de anos de culpa pelos problemas em nosso relacionamento, eu já tive o
suficiente. Este último domingo das mães, os meus filhos que desejaram, puderam
me acompanhar no almoço (meu deleite), e aqueles que não estavam disponíveis
foram amados vocalmente, mesmo assim.
Eu,
no entanto, não vou ligar para a mãe. E não me sentirei culpada por isso. Ela
teve sua chance. Infelizmente, enquanto ela acha que seu relacionamento comigo
é o único em que ela tem dificuldades, seus netos veem suas manipulações e não
querem fazer parte disso. Como eles ainda são jovens, tentam ser gentis e não
querem que ela saiba disso. Mas a gente colhe o que planta, e minha mãe está
sentindo a falta de vontade deles de se envolverem com ela e está entrando em
pânico.
Para
aqueles que têm sorte de ter mães que merecem ser celebradas, façam com amor e
entusiasmo. Mas por favor, por favor, quando vocês ouvirem alguém responder
menos do que positivamente sobre o amor materno, não ajam como se fossem, de
alguma forma, deficientes. Celebre o amor da sua mãe e a caridade por essa
pessoa que nunca teve esse tipo de amor.”
Via: Metrópoles