Com
a maturidade a gente aprende que a vida não é feita só de ganhos. Que em alguns
momentos a gente perde também, e são esses instantes que nos lapidam e
fortalecem.
Com
o tempo a gente descobre que algumas relações nos ensinam mais sobre perdas do
que ganhos. São aqueles amores que por algum motivo não deram certo, e a
história do fim ficou mais forte que a história do amor. São aquelas relações
em que a dor da separação deixou marcas mais profundas que a vereda da
convivência.
É
preciso ser muito forte para deixar uma dor pra trás. É preciso ser muito forte
pra entender que perdeu alguma coisa e não ficar olhando pro leite derramado. É
preciso ter muita coragem pra deixar pra lá e continuar nossa vidinha sossegada
sem o desalento do orgulho ferido. Porque de vez em quando o que dói não é a
falta, não é a ausência, não é a solidão. O que dói é perder. É ver que queria
muito alguma coisa e não deu certo. É construir enredos com final feliz e eles
não se concretizarem.
Caio
Fernando Abreu dizia que “pra viver de
verdade, a gente tem que quebrar a cara”, e acho que ele tinha razão.
Porque às vezes a vida ensina por meios tortos, e a gente corre o risco de se
machucar um pouco. Mas então a gente percebe que cresceu; que aquela dor teve
fim e nos fez enxergar o que tem valor; que aquele problema incontornável foi
resolvido e nos mostrou que “dar murro em
ponta de faca” nem sempre é a melhor solução.
De
vez em quando a gente tem que varrer a dor e espanar as esperas. Parar de viver
focado no passado, no que podia ter sido e não foi, nas perdas que a gente teve
pelo caminho. Todo mundo passa por perdas, todo mundo cai em um momento ou
outro, todo mundo desiste de algo que queria muito em alguma etapa da vida. E
todo mundo sobrevive. Sobrevive porque entende que não é tarde demais para
cultivar o amor próprio, não é tarde demais para agradecer a Deus, não é tarde
demais para soltar os nós que prendem a embarcação ao nosso porto e deixar partir
o que não nos pertence mais.
A
vida não é feita só de ganhos e nem é só boa. Que graça teria se fosse sempre
assim? Porém, tome cuidado para não se apegar demais aos espinhos. Cuidado para
não acreditar que eles são as peças mais importantes do jardim. Cuidado para
não valorizar a dor a ponto de não enxergar mais nada além dela. A dor ensina,
amadurece, transforma. Mas também tem o seu feitiço. E é preciso coragem para
deixar uma dor pra trás. Coragem para olhar bem fundo nos olhos da dor e dizer:
“você também vai passar”...