Da
vida quero o que é simples, mas de boa qualidade.
Troco
um jantar requintado por um arroz-feijão feito em casa refogado com muita
cebola, alho e papo furado.
Gosto
dos sentimentos simples, mas bem temperados. Do sorriso caseiro com uma pitada
de pimenta. Das receitas simples de felicidade, fáceis de decorar, de seguir e
de ensinar. Gosto de um canteiro de afeto cultivado no aparador da janela. Do
cheiro acolhedor invadindo a casa e os corações. Das falas fáceis, da risada
solta, dos medos guardados do lado de fora da porta de entrada.
Gosto
de comer reconhecendo nos sabores. De lembrar a riqueza que é apreciar
sentimentos familiares. Gosto de me sentir em casa dentro de mim quando estou
perto do outro.
O
meu castelo é de fantasia, construído dentro da casinha simples do interior.
Nele, as paredes não possuem muitos quadros, a cozinha não precisa de muitos
apetrechos, os armários não guardam grandes segredos. Mas as janelas são amplas,
boas de se perder a vista.
No
meu lar não sei receber visitas ilustres, cheias de etiquetas, de pompas e de
mistérios. Este lar é ‘pobre’, porém limpinho. Quem chega descalçando os
sapatos é bem-vindo. E também são bem-vindos aqueles que se deixam invadir sem
medo, daquele jeito ingênuo de quem nunca percebeu as segundas intenções do
mundo. Aqueles que tratam até os estranhos como ‘de casa’. E eu, se preciso,
jogo mais água no feijão para fazer render a amizade e a boa companhia.
É
que aqui, os sentimentos são antigos, talvez até antiquados, cozidos em panela
velha, devem ser resultado de receita de avó.
As
tarefas da casa são simples, mas há de executa-las com carinho. Qualquer
frescura pode ser substituída por uma boa dose de afeto. E no final do dia, uma
mão lava a outra.
Às
vezes as roupas sujas se acumulam num canto da casa, mas a gente perde um tempo
e lava tudo aqui dentro mesmo, no dia seguinte fica tudo às claras outra vez.
As mágoas vão para o ralo junto com a espuma do sabão de coco.
Da
vida quero o que é simples, mas de boa qualidade. Quero pessoas que trazem o
que podem, mas se compartilham por inteiro e quando se afastam, carregam
lembranças bem nutridas e corações satisfeitos.
Via: Resiliência Mag