Sua irmã é um pedacinho seu. Mesmo longe, ela continua perto de você.



Eu tinha seis anos quando a minha irmã nasceu. Ela era um bebê gorducho e risonho. Um dia, minha mãe a vestiu com uma roupa cor-de-rosa e a colocou junto de algumas bonecas, sentadas uma ao lado da outra sobre a cama e encostadas na parede. Eu era privilegiada: tinha uma boneca viva dentro de casa!
Conheço histórias de irmãs que não se falam mais, ou de relacionamentos bem frágeis por causa da falta de intimidade ou amizade entre elas. Isso é uma pena.

O fato de duas ou mais mulheres serem irmãs não significa que elas têm que ter os mesmos ideais de vida e os mesmos sonhos, nem os mesmos gostos. Irmãs são diferentes. Enquanto uma constitui família, a outra deseja ser livre para explorar o mundo. Enquanto uma usa esmalte vermelho, a outra prefere o de cor bege.
Talvez seja por falta dessa compreensão que tantas irmãs param de se falar. E, nessa ausência, elas acabam se esquecendo da infância que tiveram juntas, quando dividiam tarefas, brinquedos e fantasias. No vazio que fica entre elas, perdem-se o cheiro gostoso do bolo da avó, o medo que tinham do pai bravo e as férias que passaram juntas.
Eu gosto de me lembrar dos momentos que tive com minha irmã, como as vezes que me deitei ao seu lado na cama com grade de proteção para ela não cair no chão. Eu cantava as músicas de ninar que minha mãe me ensinara. Depois de alguns anos, quando eu tinha cerca de nove anos e minha irmã, três, nós brincávamos de casinha. Eu “cozinhava” para ela com meus jogos de panelinhas, e ela comia (coitada) a papinha que eu fazia, uma mistura de groselha, achocolatado em pó e açúcar. Na infância, a irmã mais velha possui um sentimento maternal por sua irmãzinha, e a mais nova espelha-se na mais velha, desejando ser igual a ela.
Os anos se passaram e fui a madrinha de crisma da minha irmã. Nos separamos quando fui pra faculdade, mas moramos juntas por quatro anos algum tempo depois. Até que, um dia, cada uma seguiu o seu destino.
Hoje moramos em cidades diferentes. Com a maturidade, não há mais uma distinção tão marcante entre quem é a mais a velha e quem é a caçula. Aliás, às vezes desconfio que minha maninha se tornou a irmã mais velha, pelo cuidado que ela tem comigo. Numa fase conturbada da minha vida, ela foi irmã, mãe, amiga, madrinha e médica para mim.
É que irmãs se ajudam, mesmo à distância. A vida anda corrida para ambas, mas elas permanecem com o pensamento uma na outra. Irmãs choram juntas, uma pela dor da outra. Depois, celebram suas conquistas. Também discordam ou discutem. Algumas vezes, elas brigam. E então se perdoam, com a mesma sinceridade da infância, fazendo as pazes e continuando a vida de onde tinham parado.
Porque irmãs são unidas pela saudade pueril. Pela inocência que se transformou em senso crítico. Pelo carinho desmedido e pela generosidade sincera. Irmãs possuem um amor que é laço que não se desfaz, mesmo que, vez ou outra, ele fique frouxo nas discórdias e nos ciúmes. Mas o laço estará sempre lá, segurando a irmandade e mantendo firme o sentimento que as une.