Dei
o fora de repente. Sem aviso prévio, sem fazer as malas. Saí como quem vai
comprar cigarro e não volta mais. Tantas vezes a gente avisa que vai embora,
ameaça, faz chantagem, mas por medo da solidão não consegue ir. Falta coragem.
Prorrogamos a dor da despedida e a agonia que nos assalta só de pensar na
abstinência do outro. Aceitamos menos amor, menos atenção, menos carinho, menos
tesão, menos cuidado. A gente aceita ser menos, ou quase nada. Até que uma hora
a gente cansa. E bate a porta sem dar uma palavra.
É
chegado o momento de seguir rumo ao novo e deixar para trás o percurso de quem
já caminhou por dois, insistiu por dois, lutou por dois e constatou que uma
andorinha só não faz verão. “Quando um
não quer, dois não brigam”. Cá entre nós, eu nunca concordei com esse
ditado. Ora bolas! Quando um não quer, o outro reclama, faz cara feia, greve,
escândalo, depois joga na cara as pendengas de 1970! Então, quando um não quer,
os dois brigam, sim! Mas enquanto existe amor as pelejas se acomodam entre um
mimo e um aconchego, entre um abraço silencioso no meio da madrugada e um “te amo” baixinho ao pé do ouvido, entre
olhares risonhos, mãos que se entrelaçam por vontade própria e pés roçando
debaixo da coberta.
Quando
você tem um aliado num relacionamento, você tem tudo. Quando você tem
importância, você tem tudo e mais um pouco. Eu não sei por que as coisas
desandam... De repente acordamos num dia nublado e percebemos que o quarto está
vazio. Já não se escuta o som de uma gargalhada. Nenhum elogio é proferido. Não
tem mais música, nem dança, nem flores, muito menos o chocolate de que você
tanto gosta. Os porta-retratos estão cobertos de pó. A louça, suja. E você? No
fundo, você só queria voltar a ter importância.
Parece
óbvio, mas todo dia tem um começo, um meio e um fim. Nas relações afetivas é a
mesma coisa. Se deixarmos o final se estender demais, a alvorada não se revela,
mesmo tendo começado um novo dia. O tempo fica escuro por muito tempo e o
convívio passa a ser tão difícil quanto um rigoroso inverno nórdico. Às vezes
chega o outono. Com sorte e empenho das duas partes, vem a primavera. Mas tem
invernos que nunca se vão. E quando eles ficam é que a gente se cansa de tanta
frieza. Partimos, pois, em busca do nosso verão que é de direito e por
merecimento.
Quando
o amor passa do tempo de validade, não adianta viver no mofo de um amor
vencido. O ser humano precisa de reciprocidade. Amar é muito bom, mas ser amado
são outros quinhentos! Nada como ser prioridade de alguém. Não existe sensação
melhor no mundo do que perceber que somos o mundo de outra pessoa!
Com
licença. Fui ali gostar de quem gosta de mim e não volto mais!
Via: Revista Bula